terça-feira, 13 de março de 2012

Canção na plenitude


Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente,
e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi:
dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria, busca te agradar
quando antigamente quereria apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.
Lya Luft




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